Lolla 2016 Day 01: Die Antwoord faz a rave do inferno e o palco eletrônico sucumbe aos artifícios EDM

Jade Gola
Por Jade Gola

Fotos: Lollapalooza Brasil 2016 por I Hate Flash

O Lollapalooza deve ter gasto um bom dinheio com o Cacique Cobra Coral, pois foi uma sorte tremenda o festival começar sem nenhuma gota de chuva 48h depois de enchentes avassalarem o estado de São Paulo.

A edição 2016 retornou à sua já conhecida estrutura no Autódromo de Interlagos e fez a felicidade de uma juventude batendo perna atrás de música nos quatro diferentes palcos montados. A novidade para esse ano é que a “tenda” eletrônica virou um palco, imenso, para 15 mil pessoas, o Trident at Perry’s, igualando em porte a EDM apresentada no sábado à testosterona dos grandes palcos de rock’n’roll.

Sexta teve Happy Hour do musicnonstop lá no Mirante, então não deu para a gente chegar tão cedo assim. Aparecemos animados no palcão clubber, decorado com o sugestivo botão de play, para ver o craque A-Trak. Mais radiofônico do que propriamente droppando EDM, A-Trak é veterano e não parece ter dificuldades a se adaptar à metralhadora de drops e cuts, mixagens rápidas, quase histéricas, que a moçada gosta. Tudo acompanhado de rajadas de fumaça e claro, o figura subindo no palco, como é de praxe para os tops. O lado bom é que só A-Trak ali parece ter tido a moral de mandar 3 minutos seguidos de scratchs, afinal ele faz isso desde moleque. E para quem esperava nuances mais houseiras de seu projeto Duck Sauce, ele jogou uns temperos de house pop noventista (o Shazam não pegou) e um remix infalível de Apache.

Enquanto os outros palcos lá longe musicavam o rock de bandas e nomes gigantescos (Cold War Kids, Of monster and men), seguimos no palcão clubber, onde o trap comeu solto  com dois nomes americanos: RL Grime e Flosstradamus. Talvez sem a respeitabilidade de um Djing que o A-Trak ainda fornecia, a fanfarronice foi acentuada e claro, o público aumentou, com RL aumentando a velocidade e o intervalo dos drops com faixas pop que você não conhecerá se tiver mais que 25 anos. Flosstradamus era MC de pé nas picapes e uma pecha mais hip hop.

Flosstradamus pondo o pau na mesa

Flosstradamus pondo o pau na mesa

O palcão foi interessante para nota um processo de Tomorrowlandzação do Lolla, que denota uma exacerbação dos artificios cênicos uma maior diminuição das fronteiras entre dance music, pop e o hip hop. Até aí tudo bem, e falar mal de EDM já é um clichê. O problema é que, ao contrário da diversidade dos outros palcos do festival nesse sábado (o main stage foi de Bad Religion a Eminem, passando por Tame Impala), o espaço eletrônico celebrou APENAS esse som, o EDM/trap masculinizado e histriônico. De todo modo, foi talvez o espaço mais “hardcore” no festival na concepção de energia musical juvenil e exacerbada.

Ufa, um respiro mais melódico e poético com o anoitecer do Tame Impala no palco principal, mandalas, psicodelias beatlemaníacas e canções perdidas no vocal abafado e nas longas construções instrumentais da banda australiana. Já conhecidos do público paulistano após shows em espaços fechados, essa foi uma apresentação de honra em que as nuvens carregadas do Autódromo ampliaram as sensações em torno de músicas bonitas como “Let it Happen” e “Elephant”, essa última a nossa mais predileta pois quebra o bom-mocismo da banda com guitarras pesadas como elefantes dançando. Catarse rock´n´roll, oh yeah!

Tame Impala coloriu o palco principal com psicodelia

Tame Impala coloriu o palco principal com psicodelia

Fizemos aloka e não deu para ver Alok, o “DJ número  1 do Brasil” pois fomos pegar um bom spot para ver o ritual demoníaco do Die Antwoord no palco Axe, mas tudo bem: Alok está no topo, arrasta multidões e vai ser testado em tudo quanto é grande evento para deliberação do público e da mídia em geral.

O inferno do Die Antwoord é um ritual xamânico de tudo que mais vulgar e atraente pode ser exibido pela música pop: beats gigantescos e pornográficos, pessoas e coisas disformers, cores e profanação de brinquedos infantis em peças masturbatórias… Tudo num ritmo de hardcore rave que o DJ HI-Tek chega apresentando com o sugestivo  “fok in the ass”. Yolandi e seus olhos negros chegam como a Pomba Gira com o agudo mais lindo e bizarro que existe na música hoje e Ninja é o rei da parada, saudando seu grande pau africano e mostrando que o Die Antwoord tem como explosão dois MCs que não deixam a peteca cair, um DJ gordão monstruoso e estricnado e aquela profusão de símbolos errados que fariam sua vó se decepcionar no almoço de domingo.

O público respondia à altura, goela solta, mãozinha de from hell no ar, e “Pitbull”, “I Fink U Freeky” e a maravilhosa “Baby´s on Fire” explodiram o autódromo. Os sommeliers de beat registraram jungle, kuduro, house, poperô, gabba, bass, hip hop e várias outras safras de dance music desfiguradas – e deliciosamente saborosas, venenosas.

Kaskade fez jus à grandiosidade do palco eletrônico

Kaskade fez jus à grandiosidade do palco eletrônico

Antes de voltarmos ao palco eletrônico, conferimos a entrada de Eminem e nos entediamos em menos de 10 minutos porque, afinal, who fuckin’ cares, ainda mais quando o rapper principal da noite canta menos que seu MC de apoio.

Surpresa boa foi o set de Kaskade, melhor DJ do palcão, que não abriu mão do trap e dos drops de EDM, mas fez isso MIXANDO, e não apenas metralhando bases pré-gravadas. O grosso de seu caldo dançante é um prog house confortável e grudento, que envolve bem a cintura da rapaziada, e aí no meio vai de tudo, de drum´n´bass a farofas radiofônicas, como uma “No Diggity” remix estranhíssima, e muita, muita serpentina explodindo no palco.

Encerramos nosso Lolla Day 01 apaixonados por Marina e sua banda The Diamonds – que mulher! Gata, gostosa, com sua cara de Catherine Zeta-Jones do pop britânico, a voz poderosa como a de Florence, apesar de um pouco mais profunda e abafada, dando um carinho pop no público com construções de pop bem elaboradas em torno de sua voz e bases tanto roqueiras, quanto de dance music bubblegum. “Froot”, hit de seu mais recente álbum, é épica, lembra uma Lady Gaga mais alternê e menos pretensiosa, e prova que essa linda figura do pop ainda tem estrada pela frente.

Marina - QUE MULHER!

Marina – QUE MULHER!

A gente tem estrada pela frente também, ou melhor, mais morro e pista do Autódromo nesse domingo, no Lolla Day 02 de 2016. Fique com a gente, e compartilhe suas opiniões e percepções do festival!

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