Lumen Craft é a banda brasileira que você precisa conhecer já. Ouça nova faixa e leia entrevista

Claudia Assef
Por Claudia Assef

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Quando uma amiga me mandou o link pra ouvir o som da banda de uns amigos dela, pensei: “Ah, legal”. Mas depois de ouvir o trio paulistano Lumen Craft concluí que mais gente merecia ouvi-los. Os músicos John Evans, Ceah Pagotto e Noah Guper juntaram forças pela primeira vez quando moravam em Londres, em 2007. A estrada de quase 10 anos juntos talvez justifique que o som deles soe tão maduro e bem produzido.

Adorei a definição da sonoridade que um dos integrantes do Lumen Craft deu para o som da banda: “imagina o J.J. Cale tomando uma com o SBTRKT”. É meio por aí mesmo.

Nesta quinta, o Lumen Craft abre a programação do Meca Presents/SP, ao lado das bandas gringas Miami Horror e Oh Wonder e dos brasileiros Database e dos DJs do núcleo Gop Tun.

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Pra comemorar, eles mandaram um presentinho pros leitores do Music Non Stop, uma nova faixa, a linda Low Flight, que ouve aqui com exclusividade.

Além da música (muito) boa, eles investiram em tecnologia para criar um show audiovisual de responsa. Inspirados pela união da tecnologia com o artesanal, o som do trio tem influências que vão do blues ao indie, passando, claro, por diversos gêneros da música eletrônica.

As apresentações ao vivo têm cenografia de palco interativa, desenvolvida pelos artistas Alexandre Silveira (aka exz, que tocou num dos Happy Hours Music Non Stop) e Marina Carneiro, do coletivo pixiequark. Tudo sob o olhar do diretor de criação e artista Vitor Bomfim, responsável pela identidade visual do projeto.

Agora um pouco mais sobre os meninos. John Evans se formou em cinema pela Metropolitan University em Londres, onde se apresentava em pubs locais com a banda Kids of Horses. Além da banda, ele trabalha como diretor numa produtora de TV. Noah Guper é formado em música pela Thames Valley University (Londres) e além do Lumen Craft dedica seu tempo ao George Benson Music Institute, em Los Angeles. Ceah Pagotto é engenheiro de som formado pela SAE Institute e participa ainda do coletivo de DJs e produtores Shaka, criando remixes e mashups de clássicos da música negra. Claro que fizemos um entrevistão com eles, eis aqui.

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Music Non Stop – O Lumen Craft foi formado em Londres, onde vocês moravam. Contem um pouco sobre a cena que inspirou vocês lá na ocasião do início da banda?

John – Fizemos um primeiro experimento em Londres, o que foi primordial, mas bem antes do Lumen Craft e totalmente diferente do que fazemos hoje. Nos encontrávamos em Candem Town e faziamos um som na frente do canal. Eu me apresentava bastante em pubs locais e fazia open mics com o Noah.

Noah – A cultura de música de rua já era muito forte lá. Era um som sem compromisso.

Ceah – Londres foi onde comecei a comprar equipamentos e montar um mini estúdio. O primeiro synth, a primeira placa de som, o primeiro controlador mid. Lembro que ia para as lojas que vendiam sinterizadores usados e ficava experimentando, oportunidade difícil de ter aqui no Brasil.

Music Non Stop – O Gui Silva, da INKY, que é colunista do Music Non Stop, escreveu um artigo dizendo que 2016 vai ser o ano da música independente no Brasil. Vocês estão sentindo isso também?

Ceah – Eu tenho sentido bastante. Tenho visto muitos artistas nacionais aparecendo em uma cena independente que está cada vez mais forte. Depois de uma época dominada pelas baladas, acho que a cultura de performance finalmente voltou, inclusive para a cena eletrônica.

Noah – Me parece que o movimento independente está mais organizado. Bons festivais ganhando notoriedade, crescendo.

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Music Non Stop – O som de vocês é carregado de influências que vão do technopop dos anos 80 ao rock indie atual. Conseguem descrever as referências mais fortes do Lumen Craft?

Ceah – O John tem um background de blues, funk e rock, enquanto o Noah tem influências do jazz e funk. Já o meu repertório vem do eletrônico. Não buscamos replicar nenhum timbre, ficamos na noia de chegar a timbres que tenham personalidade. O John e o Noah têm essa coisa de subverter os gêneros para adaptar as formas para a musica eletrônica.

Noah – O Lumen é uma oportunidade para explorar essa questão do timbre, especialmente na conexão com a música eletrônica. Curto tirar a guitarra do som tradicional e me aproximar desse universo.

John – Imagina o J.J. Cale tomando uma com o SBTRKT.


Lumen Craft – I Know You Know

Music Non Stop – Vocês fazem um show audiovisual. A parte dos visuais é concebida em qual fase das músicas, qual é o processo?

Ceah – Criamos a parte visual em colaboração com o pixiequark, formado pelo Alê Silveira (exz) e a Marina Carneiro. Depois do live estruturado, começamos a brisar na imagem. Ainda não temos, nem sabemos se um dia teremos, uma versão visual final. Essa é a ideia.

John – É beta, né? Tudo é muito experimental.

Music Non Stop – Vocês vão tocar no Meca com bandas como Miami Horror. Como vai ser o show de vocês lá?

John – Vai ser incrível abrir para os caras. Tenho certeza de que vamos esquentar a chapa para eles. Mas a melhor maneira de descobrir mesmo é indo assistir, rs!

Music Non Stop – Por que vocês resolveram voltar pro Brasil? Londres não seria um cenário mais tranquilo e favorável pra uma banda independente se desenvolver?

Ceah – Achamos importante primeiro construir uma base na América Latina, que é a nossa casa, e fomentar a cena aqui.

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Music Non Stop – John, você é formado em cinema, trabalha com isso, quanto dessa experiência de story telling cinematográfica você transporta para a banda?

John – Acho que essa coisa da imagem e da cinematografia acaba entrando muito na forma como eu escrevo. Tenho interesse em criar analogias e um contexto mais amplo. É uma sensação de uma experiência transportada para o som.

Music Non Stop – Noah, o que você faz no George Benson Music Institute e como vc se relaciona com o mestre George Benson?

Noah – GBI é um projeto que estou desenvolvendo com o George Benson e o Peter Farrell. Vai ser uma escola de música nos Estados Unidos com alguns dos melhores professores do mercado. O Benson sempre foi um ídolo, conhecê-lo pessoalmente, conversar sobre música, ouvir todas as histórias, está sendo uma puta experiência.

Music Non Stop – Ceah, você acredita que existe um marca de brasilidade no som do Lumen Craft ou vc reserva esse lado para o trabalho com o Carimboogie?

Ceah – No Lumen eu foco nas coisas novas que vou escutando ao redor do mundo, tem uma linguagem clara e não vem do Brasil. Isso eu realmente deixo para o Carimboogie, projeto novo que deve sair no segundo semestre. A ideia é usar a visão e vivência do eletrônico e misturar com referências da musica regional e folclórica brasileira.

Music Non Stop – Por que cantar em inglês, é uma questão estratégica de mercado?

John – Por meu pai ser inglês e eu ter morado em Londres por cinco anos, isso acabou influenciando muito a minha formação musical. E acho que isso acabou acontecendo de maneira orgânica.

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MECA PRESENTS/SP

Quinta (31), a partir das 22h
Local: Estúdio (Av. Pedroso de Morais, 1036 – Pinheiros – São Paulo)
Line-up: Lumen Craft, Oh Wonder, Miami Horror, Database e Gop Tun DJs
Ingressos: de R$ 90 a R$ 300

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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