Conheça Euvira, a performer abusada das festas de techno que já foi drag e tocou pandeiro no metrô de Buenos Aires

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Ele é assim uma espécie de Daft Punk das festas de música eletrônica mais fervidas de São Paulo. São tantos looks, alguns deles com o rosto escondido, que muita gente nem deve reconhecer o baiano Misael Franco de dia, num supermercado. Muito menos se ele usar seu nome do RG.  Mas à noite, quando ele sobe numa caixa de som ou praticável de DJ e começa a dançar todo trabalhado na montação, todo mundo grita: Euvira Euvira! Os looks são tão abusados e diversos que ele, que quando está trabalhando prefere ser tratado por “ela, já foi logo usando o pseudônimo duas vezes em perfil do Facebook, sem miséria!

Euvira é a primeira personagem da noite a ganhar um perfil na série #MillerMusic aqui no Music Non Stop. A cada semana, você vai conhecer melhor gente que faz e acontece no cenário eletrônico nacional. Hoje é dia de mergulhar no universo deste baiano que adotou São Paulo como seu lar e já foi chamado de Patati Patata por uma criança no metrô enquanto estava vestido para o trabalho.

Aproveita e bota I Want Your Love, do Chic, uma das músicas favoritas do Misael, bem alto pra ouvir enquanto lê a entrevista. E, da próxima vez que a vir brilhando por aí, pode gritar “arrasa”, que ela vai amar.

ChicI Want Your Love

Music Non Stop – Conta um pouco do seu background. De onde você é, quando foi numa festa de música eletrônica pela primeira vez e quando teve a ideia de começar a fazer performance?

Euvira – Meu nome é Misael Franco, nasci e cresci na periferia de Salvador, Bahia. Desde a adolescência eu ia pra clubes LGBTs da cidade. Euvira surgiu porque eu participei de um concurso de drag queen e daí tinha que ter um nome. Resolvi ser Euvira. Antes de performar em festas eu me apresentava em teatros, salões de artes visuais e congressos estudantis. Durante o período da universidade eu e mais três amigos criamos um grupo de performance chamado Baphão Queer, que tinha como propósito levantar o debate sobre gays afeminados e naturalizar a feminilidade em corpos masculinos ou masculinizados. A primeira festa de música eletrônica em que performei foi a FunHouse, também em Salvador, com o DJ Jerônimo Sodré, que é minha madrinha da noite.

MNS – Você se mudou pra São Paulo em meio a uma verdadeira revolução da noite daqui. Do que você gosta mais da cidade?

Euvira – O que eu mais gosto de São Paulo são as possibilidades. Eu mudei pra cá porque a noite daqui precisava conhecer o meu trabalho e acredito que eu tenha contribuído para essa mudança na noite de SP. Meu trabalho não é só sobre vaidade é, também, sobre representatividade. E eu espero que cada vez mais negros, mulheres e nordestinos estejam inseridos e atuando na cena noturna dessa cidade.

MNS – Quem são seus DJs preferidos? Por quê?

Euvira – Eu gosto de vários DJs e tenho uma conexão musical muito forte com outros, mas quem mexe mesmo com minha pélvis são a Amanda Mussi e a Cashu. Mas, para além disso, acho importante a presença feminina na cena eletrônica, que, infelizmente, é tão machista. Elas se colocam, metem o pé na porta e me inspiram a fazer o mesmo dentro do meu trabalho.

MNS – Já teve alguma cena engraçada que rolou enquanto você estava trabalhando?

Euvira – Abraçar minhas pernas, puxar meu pé, pegar na minha bunda…  são as que mais acontecem. Uma vez no metrô, eu tava bem colorido e uma criança ficou louca me chamando de Patati Patata!

MNS – Você se inspira no trabalho de alguém?

Euvira – Tem várias artistas que me inspiram… a Grace Jones, Laura Mvula, Aretha Sadick e a Ana Gisele são referências visuais incríveis pra mim. Mas a primeira artista que eu vi e me deu vontade de subir num palco foi uma drag de Salvador chamada Valerie Ohaha.

MNS – Qual é a parte mais legal de trabalhar na noite?

Euvira – Com certeza é não precisar acordar cedo e ter a segunda-feira de folga, mas o fato de trabalhar onde eu também posso me divertir e estar com meus amigos me agrada muito.

MNS – Se você pudesse convidar alguém pra dançar com você um dia, quem seria?

Euvira – Com certeza eu chamaria a Carreta Furacão!!! hahahahahha

MNS – Qual é a sua música preferida pra dançar?

Euvira – Eu não tenho uma música preferida, mas gosto muito de disco, house e afrotechno… Se deixar passo um dia inteiro dançando!

MNS – Que outros trabalhos você já teve? O que faria se não fosse performer?

Euvira – Se eu não fosse performer com certeza eu iria sambar como deejay. Eu já trabalhei de tudo um pouco na vida. Entre 2013 e 2015 eu viajei pela América Latina de carona, e daí eu já toquei pandeiro no metrô de Buenos Aires, já vendi incenso nos parques de Santiago, no Chile, já vendi comida brasileira na Bolívia, já sambei na praça de Bogotá e passei o chapéu, já vendi pena de ganso tingida de vermelho, dizendo que era de arara, no Uruguai e, aqui no Brasil, já trabalhei de telemarketing, em shopping, em escritório, já fui servidor público e larguei tudo pra ir conhecer América Latina! ahhahah <3

 

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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