DJs lamentam o fechamento do Fabric, em Londres: “estão querendo derrubar o Golias”

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Um dos clubes mais emblemáticos do mundo, o londrino Fabric será obrigado a fechar suas portas depois de o alvará de funcionamento do clube ter sido suspenso pelo conselho do bairro de Islington, onde ele fica.

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Um dos templos da música eletrônica mundial, o Fabric havia sido fechado temporariamente em agosto deste anos, depois do anúncio da morte de dois frequentadores por uso de drogas. A possiblidade de fechamento definitivo gerou uma verdadeira mobilização da comunidade noturna/eletrônica do mundo, com direito a uma petição com milhares de assinaturas, que foi entregue ao novo prefeito de Londres, Sadiq Khan, que é abertamente a favor da manutenção dos clubes noturnos na cidade, como já divulgamos aqui.

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A real motivação da subprefeitura em fechar o clube, porém, pode ter outra motivação. Muito tem se falado em especulação imobiliária e gentrificação, já que o Fabric está localizado num bairro que está sofrendo forte movimentação neste sentido, conforme noticiou o jornal Independent nesta matéria.

Fundado em 1999 por Keith Reilly e Cameron Leslie, o Fabric foi parte fundamental no fomento da cultura de música de pista no mundo ao longo de seus 17 anos de atividades. Por suas cabines já passaram mais de 5.000 artistas, dos mais obscuros aos mais populares DJs e produtores da música eletrônica mundial. Isso sem contar que o clube mantinha 250 empregos diretos, de faxineiros a designers, que agora ficarão sem emprego.

Fechar um clube como o Fabric, que tinha como filosofia a organização, atendimento cordial e até água de graça em seus bebedouros, alegando abuso de drogas de alguns de seus frequentadores é como tentar remendar o furo de um pneu com um pedaço de durex 🙁

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A suspensão do alvará de funcionamento do Fabric atingiu DJs e produtores bem no estômago. Goldie, um dos responsáveis pela popularização do drum’n’bass no mundo todo, gravou depoimento dizendo que a decisão era um verdadeiro retrocesso. “Este país [Inglaterra] foi construído sendo diferente, artística e musicalmente. Me pergunto se não seria o caso de eu, Norman J, Jazzy B e Pete Tong derretermos nossos MBEs [título de honra distribuído pela Rainha]. Quando você resolve fechar um clube como o Fabric, você se mostra completamente idiota. O Fabric foi uma religião para todos nós. Acho que se isso seguir como está indo… Deus ajude a molecada que virá no futuro”, disse, abatido. Veja no vídeo abaixo.

Goldie lamenta o fechamento do Fabric

O Fabric recebeu inúmeros DJs brasileiros ao longo de sua história. Um dos mais presentes em suas cabines foi Marky, que manteve sua noite, Marky & Friends, no clube. “Estão querendo derrubar o Golias”, ele desabafou ao Music Non Stop por mensagem depois de tocar no festival Sun and Bass, na Sardenha, Itália. Falamos com ele e outros DJs brasileiros sobre o fechamento do Fabric. Tristeza define.

MARKY

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Soube da noticia às 5h30 da manhã de quarta feira… Todos os DJs estão completamente chocados, como disse o Goldie: “Estão querendo derrubar o Golias!”. O que posso dizer como residente durante oito anos sobre o melhor clube do mundo? Ainda não sei, mas me sinto privilegiado por poder fazer parte da história desse clube que, na verdade, é o verdadeiro TEMPLO da música underground… Lov.e Club, The End e agora o Fabric… Absolutely devastated!

CAMILO ROCHA

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As autoridades alegaram problemas com drogas para fechar o Fabric, mas parece que o motivo real é mais embaixo. Uma matéria do Independent aponta que a especulação imobiliária pode estar por trás de tudo: empreendedores estariam de olho no terreno onde fica o clube e mexeram seus pauzinhos na subprefeitura. Recentemente, a Ministry of Sound correu risco de fechar por conta de outro empreendimento. Depois de negociar, garantiu sua sobrevivência. São casos que mostram como as forças do mercado passam como trator em cima da cultura e da comunidade quando precisam. Não é só um importante pólo de música e dança que se foi, uma referência mundial dos clubes, mas também 250 empregos diretos.

EDU CORELLI

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Eu nunca fui no Fabric , mas se o fechamento foi por causa de mortes de colocação, daqui a uma década não restarão clubes abertos no mundo. Mas ainda acho uma tristeza, pois pessoas dependem desse meio de diversão para alimentar famílias, de door a DJs, de seguranças a engenheiros de som.

RENATO COHEN

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Nesses últimos dez anos, toquei inúmeras vezes no Fabric em Londres e todas as noites foram inacreditáveis. Realmente triste ver um clube como esse fechar por decisões imediatistas e ignorantes que não chegam nem perto de resolver os problemas em questão.

MARA BRUISER

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Eu morei em Londres nos tempos do auge do Fabric, fechar o clube é fechar também uma parte da história da house, do techno e do drum’n’bass inglês. Triste!

PATIFE

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Nossa… Estamos num painel neste exato momento aqui na Sardenha, no Sun and Bass, falando disso!  Bom… Além de triste, é mais um pólo da cultura musical sendo massacrado. São mais de 200 pessoas que vão ficar sem emprego fixo!

LAIMA LEYTON (MIXHELL)

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O fechamento do Fabric já não é uma coisa recente, né? Eles estão lutando para deixar o clube aberto há algum tempo. As mortes caem como uma cereja no bolo para culminar com o fechamento. Para mim, tem dois lados bem chatos.

O primeiro é de fechar um clube que se manteve forte e fiel à música eletrônica não comercial. Lembro uma vez que vi um carro tipo Ferrari na porta com uns playboys perguntando se tocava “comercial hits” aos seguranças, e os seguranças recomendaram que os caras procurassem um outro clube. Apesar de não ser o meu clube preferido de Londres, nós sempre frequentávamos e tocávamos lá. A equipe de som e como soava tudo lá, sim, era um dos meus lugares preferidos. Acho que não era o meu clube preferido já pela mudança dos arredores, que é outro dos fatores que chutaram o clube de lá e que me chateiam, a gentrificação de toda essa área de Islington (subdistrito em que também moramos!) ou mesmo de toda Londres, que, é claro, tem os seus prós e contras…

Torço para que eles peguem todo o equipo e a equipe e migrem para outro lugar. E continuem com a vibe de bookar todo mundo que experimenta na cena da música eletrônica. Fico triste que meus filhos não vão curtir o Fabric, mas fico muito orgulhosa de estar nessa lista. Bora comprar a camiseta

RENATO RATIER

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É uma grande perda, toquei quatro vezes e sempre foi ótimo! Agora, uma das cidades mais importantes do mundo, com uma representatividade gigante na música, não ter um clube decente é um absurdo!!!

LEIA AQUI O MANIFESTO DOS DONOS DO CLUBE

 

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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