Na ativa há 25 anos, DJs do Bruce Leroys querem ajudar a bombar a cena eletrônica carioca. Leia entrevista e ouça o set exclusivo

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Já tinha cruzado com o DJ e produtor Marcelo Abreu nas boates da vida, mas nunca tinha batido um papo com ele até que nos encontramos no backstage de uma festa no ADE (Amsterdam Dance Event), ano passado, em que a principal atração era o Gui Boratto.

Conversamos longamente, e foi dele que surgiu o contato do Carlos Machado, DJ e comerciante de discos que eu procurava há muitos anos pra fazer uma matéria. Assim que voltei pro Brasil, comprei uma passagem pro Rio de Janeiro e fui ao encontro do apelidado Carlinhos Nazz, e fui recepcionada pelo Marcelo.

O papo se estendeu por horas e a entrevista você pode ser no link abaixo.

A INCRÍVEL HISTÓRIA DO DJ QUE TROUXE BOA PARTE DA DANCE MUSIC PRO BRASIL 

De volta ao Marcelo, nosso papo engatou tão bem porque, assim como eu, ele é um fanático pela história da música eletrônica no Brasil. Assim como Nazz, ele é de Niterói, não sei se você tá sabendo, mas é a terra natal de muito músico de responsa deste país – Sergio Mendes, Arthur Maia, Alex Malheiros (Azymuth), De Leve, DJ Nepal, The Twelves, Paulinho Guitarra, Black Alien, Baby Consuelo, Ronnie Von..

Depois de tocar durante anos sozinho, Marcelo montou o projeto Bruce Leroys com o amigo Diogo Vaille, DJ desde os anos 90, também de Niterói. No próximo dia 18, eles são uma das atrações da celebração de 6 anos da festa House Mafia, ao lado de Elekfantz, Flow & Zeo, Junior C e outros.

Pra conhecer um pouco mais sobre o Bruce Leroys, batemos um papo com os meninos sobre a cena carioca, techno e aproveitamos pra pedir um set exclusivo para os meninos. Aperta o play e leia a entrevista.

Music Non Stop – Como vocês se juntaram e por que o nome Bruce Leroys?

Bruce Leroys – Somos de Niterói, DJs desde o início dos anos 90 e amigos desde 1996. Diogo montou uma agência, me chamou pra fazer parte e sempre dizíamos que a gente precisava unir forças pra fazer o que estávamos realmente com vontade, produzir coisas que acreditávamos e mostrar o nosso trabalho pelo mundo. Em 2012 finalmente nos juntamos e a coisa andou. Nosso primeiro release, “Get me Right” EP foi assinado na OFF Recordings, do alemão Andre Crom. Na época eles tinham 10 tracks no top 100 do Beatport e pensamos: “precisamos fazer as coisas direito, marca, nome e tal”. Lembramos de um filme Sessão da Tarde que rolava no Bronx com um som bem 80’s, no qual o protagonista pegava a bala (de revólver) com dentes, que era mais ou menos o que estávamos fazendo com nossas carreiras naquele momento. Era divertido e ao mesmo tempo tinha uma mensagem, demos boas risadas e decidimos ser os Bruce Leroys a partir de então.

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Music Non Stop – Como está a cena de música eletrônica no Rio de Janeiro?

Bruce Leroys – Está num momento crescente, apesar do momento de crise financeira e política no Brasil deixar os investidores e empreendedores mais discretos. Ainda assim temos grandes coisas acontecendo, somos residentes do maior evento do Rio de Janeiro no nosso segmento, a RIO ME. Existe mais duas ou três festas grandes onde podemos tocar o nosso som na cidade, como a Base, a Love Sessions e a Deep Please, além das menores, porém super bacanas Rara, Bootleg, MOO, Rebu, Foundation, Bridge, Me Gusta (entre várias outras) e de uma nova festa/movimento focado em techno, a Kode (que está trazendo o DJ Murphy no dia 17). Além é claro dos eventos do Claudinho (Rocha Miranda), RMC e ULTRA, que têm proporções internacionais. Tem também o club Privilege, de Búzios, onde nos apresentamos com certa frequência e mantém bons line-ups de forma geral, com vista pro mar de manhã no after, o público alegre e o sound system D.A.S. que nunca decepcionam. Estamos aguardando a chegada do Renatão (Ratier) no Boulevard do Pier Mauá, no centro do Rio, em agosto com o D-Edge. Resumindo, o momento nunca foi tão efervescente.

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Music Non Stop – Existe uma vontade de fomentar a cultura de techno no RJ, podem explicar melhor o que é que é o Kode Project?

Bruce Leroys – Claro que existe, mas não só o techno, como o deep, o tech-house, o (real) nu-disco, na real… Não estamos muito preocupados com o techno, ele não precisa tanto da nossa preocupação rs, ele vai muito bem, obrigado, é o estilo número 1 em vendas no Beatport hoje. Estamos mesmo preocupados em fazer boa música, independentemente do estilo, isso no fundo é mais importante que o hype do momento, porque quando as ondas passam a cena continua, e precisamos manter o dancefloor em movimento, afinal esse deveria ser o objetivo dos artistas, criar coisas plenas, atemporais que tenham uma base de fãs real e entusiasmada, não o hype, mas a obra em si. Isso é o que buscamos na nossa caminhada.

A Kode é um movimento criado por produtores de mão cheia e de um núcleo pequeno de artistas que tem real amor pelo estilo. Está começando pequeno, porém estruturado, com site, fanpage, curadoria de conteúdo, e pretende ser um dos catalisadores no Rio de Janeiro dessa nova onda techno que tomou conta do mundo. Nós apoiamos toda e qualquer iniciativa no sentido de olhar a música com respeito, amor e profissionalismo.

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Music Non Stop – Neste set exclusivo tem músicas novas de vocês? Contem um pouco sobre elas.

Bruce Leroys – Tem uma música nova nesse set que se chama Inside my Brain (19’46” do set). Estamos curtindo a onda house como nunca, estamos de olho no que alguns caras estão fazendo com a nova tecnologia disponível, onde a qualidade do áudio das tracks é bem superior em volume, clareza e pressão sonora que a dos primeiros momentos do house, mas a musicalidade não foi perdida. Somos muito interessados nessa questão do áudio, das masters, da técnica em si, nunca mandamos nenhuma música nossa pra masterização por terceiros. Achamos que, hoje em dia, devido à evolução tecnológica, a “masterizacão” ou a finalização do áudio das músicas é parte integrante e essencial do processo criativo do artista. Enfim, piração de nerd.

Quando falamos na pergunta anterior sobre apoiar a música independentemente do estilo tem muito a ver com esse set, passeamos por alguns estilos diferentes, curtimos boas canções como as que abrem o set, a primeira delas do selo do Gui Boratto, o D.O.C. e também tem as coisas mais dancefloor oriented do fim do set. Nossa idéia não mudou muito nos últimos 25 anos, curtimos música, de preferência aquela que nos toca de alguma maneira, espero que o sentimento seja o mesmo pra quem nos ouve. Obrigado pelo espaço, Claudinha, somos fãs do MNS desde as primeiras matérias, e do seu trabalho e textos faz anos. Grande abraço dos “Bruce” pra vocês do MNS e para todos os leitores.

House Mafia 6 anos

18 de junho, a partir das 23h
Audio (Avenida Francisco Matarazzo, 694, tel. 11-3862-8279)
Line-up Main Stage: ELEKFANTZ Live, HOTSPOT & KOMAROF, Hot Bullet, Junior C e F.o.n.s.
Line-up Techno Stage: Flow & Zeo, Ellie Ka, Bruce Leroys, Guss e Vini Pistori
Preços: Pista; R$ 60,00 ou R$ 120 (consumação), Camarote Open Bar; R$ 170 (mulheres) e R$ 270 (homens)

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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