Nuven, projeto bacanudo de SP que une synths e guitarras, lança single Escape no Music Non Stop. Ouça e leia a entrevista

Claudia Assef
Por Claudia Assef

Não é de hoje que estamos de olho nesta Nuven (assim mesmo, com “n” no final). Trata-se do projeto eletrônico criado pelo produtor Gustavo Teixeira, que juntou sozinho suas pirações com guitarras, pedais de loop e sintetizadores analógicos e digitais para criar faixas que, você vai sacar, lembram sons como Four Tet e Caribou.

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Gustavo está nos ajustes finais do seu primeiro álbum, que será lançado nos próximos meses pelo maneiríssimo selo Balaclava, sobre o qual já falamos nesta matéria. O primeiro single deste trabalho, Escape, você ouve agora, com exclusividade, aqui no Music Non Stop.

O Nuven lançou seu primeiro trabalho em 2015, criando faixas elaboradas com camadas de samples, gravações caseiras e vinis antigos. O EP de estréia, Choice of a Fiction, foi gravado, produzido, mixado e masterizado pelo próprio Gustavo, em seu estúdio, usando controladores midi, adicionando sintetizadores analógicos e digitais, diversos elementos do rock, rap e beats eletrônicos, inspirado por produtores como Four Tet, Machinedrum e Tycho.

Veja o belo clipe de Choice of a Fiction – Nuven

Nesta quinta (1), ele se apresenta no showcase do selo ao lado da banda Meneio, no Centro Cultural São Paulo. Mais informações sobre o evento, que é gratuito, aqui. A gente bateu um papo com o produtor, leia agora a entrevista.

nuven

Music Non Stop – Qual é a sua formação musical, tanto em termos de influências quanto de estudo mesmo?

Gustavo Teixeira – Comecei tocando guitarra aos 14 anos, tocava punk rock com os meus amigos e de lá pra cá tive algumas bandas. No começo era mais punk rock e hardcore, mas, com o passar do tempo, passou a ser rock alternativo como Fugazi, Sonic Youth, Nirvana e Modest Mouse. As influências foram mudando até eu pensar em fazer música eletrônica. Nessa época, eu até ouvia alguma coisa ou outra de música eletrônica, mas nunca tinha ido muito além no assunto e não tinha a noção de como eram produzidas. Há alguns anos, fiz um curso de áudio e comecei a ler mais a respeito de mixagem para poder gravar minhas bandas, pelo menos pré-produções. Descobri então num livro de produção musical vários exemplos de como abordar mixagem de música eletrônica e de banda. Li várias coisas sobre o assunto e fiquei bem interessado, principalmente sobre como deixar um beat mais dinâmico, soando mais próximo de um baterista de verdade, mas mantendo a estética eletrônica.

Comecei a baixar músicas relacionadas com Aphex Twin, que eu já curtia nessa época, e fui descobrindo vários artistas que nunca tinha ouvido, mas que me agradavam muito. Foi aí que eu conheci Squarepusher, Four Tet, Caribou, Gold Panda, Tycho, Burial, Nicolas Jaar, Pazes e uma porrada de produtores que conseguiam fazer música eletrônica que se aproximava mais da linguagem e da sonoridade de uma banda pra mim, mas que não necessariamente eram arranjadas em um formado para pista. Assistia vários tutoriais no YouTube e comecei a produzir minhas primeiras músicas, até que decidi que não queria mais ter banda e me dedicaria somente a fazer música eletrônica. Fiz um curso de Ableton Live e, pouco mais de um ano depois, lancei meu primeiro EP.

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Music Non Stop – Seu som é muito internacional, ao mesmo tempo eu sinto uma brasilidade nele. Fale sobre isso, por favor.

Gustavo Teixeira – A maior parte das referências para o tipo de som que eu faço vêm de fora. Gosto bastante de música brasileira, embora ainda não tenha diretamente explorado isso na minhas músicas. Acho que a brasilidade vem da inocência de tentar produzir músicas inspiradas nas coisas que estão à minha volta.

Music Non Stop – Qual é o disco mais maluco que vc já sampleou numa música?

Gustavo Teixeira – A música In A Dream, do meu EP, começou de um sample de violão que tirei da música Take Me Home Vienna, da banda Bobb and the Kidds do anos 80. Descobri esse compacto em 2014 numa loja de usados e comprei o disco porque gostei da capa. O sample acabou servindo como elemento principal para o som todo e usei alguns samples de vozes também.

Music Non Stop – Acho que tem muita gente ansiosa pra ouvir seu primeiro disco. O que vem por ai?

Gustavo Teixeira – São oito músicas que produzi desde o ano passado até aproximadamente abril. O álbum está um pouco diferente do meu primeiro EP, Choice of a Fiction. As músicas estão um pouco mais lentas e o clima do disco está mais denso. Desde o lançamento do EP, muita coisa mudou na minha vida, então acho que isso refletiu nas músicas também. Estou bem ansioso em soltar o disco e saber como as pessoas vão reagir a ele.

Ouça Choice of A Fiction no Spotify

Music Non Stop – Como você a cena musical brasileira hoje? Do que você mais gosta daqui?

Gustavo Teixeira – O Nuven é um projeto novo e até pouco tempo atrás eu nunca tinha feito uma apresentação ao vivo sozinho e nunca fui oficialmente DJ. Ainda estou procurando entender como funciona a dinâmica das festas em que toco e até mesmo do formato da minha própria apresentação. Desde que iniciei esse projeto, conheci vários produtores e vejo que tem muita coisa boa acontecendo. Há cada vez mais lugares pra tocar, festivais independentes, diferentes gêneros musicais reunidos num mesmo evento, vários coletivos produzindo festas legais, rolês na rua etc. Do meu ponto de vista, acho que o cenário está cada vez mais interessante para artistas brasileiros.

balaclava

No meio do ano passado, comecei um papo com a Balaclava Records. O Fernando (Dotta, um dos donos da gravadora) conheceu meu som por um amigo nosso em comum e rolou um interesse mútuo de fazer uma parceria. Eu gosto das bandas do casting e, embora seja o único produtor eletrônico, me identifico com a sonoridade e com o posicionamento da gravadora. Eles realmente acreditam nos artistas nacionais e têm feito coisas relevantes para estimular esse cenário.

Music Non Stop – Você cita influências de Four Tet, Machinedrum e Tycho. E do Brasil, o que te influenciou/influencia?

Gustavo Teixeira – Entre os artistas eletrônicos, tenho ouvido: Formafluida, Barulhista, Iridescent, Luisa Puterman, Joao Viegas, BadMix, Rod, Rollinos, Ricardo Gualter, Walter Nazário, Raquel Krugel, Jovem Palerosi, Repetentes 2008 e mais uma galera. Algumas bandas que gosto: Mahmed, Terno Rei, Ombu, Ale Sater, Raça, Séculos Apaixonados.

Ouça Silêncio de Marfim, de Luisa Puterman

Music Non Stop – Qual é o ambiente ideal para ouvir seu som?

Gustavo Teixeira – Acredito que em um ambiente mais intimista e ao ar livre.

Music Non Stop – Se você fosse escrever o release do seu disco, como ele seria?

Gustavo Teixeira – Mesmo sendo dentro do gênero eletrônico, não se trata necessariamente de um disco dançante ou de música ambiente. Há um contraste entre beats lentos (porém energéticos) com elementos e texturas que soam quase lo-fi. Considero um trabalho experimental, onde explorei loops de guitarra, samples de voz e sintetizadores de formas um pouco diferentes das que já tinha trabalhado.

balaclava

Nuven + MENEIO no CCSP
Quinta, 1 de setembro, 20h
Sala Jardel Filho – Centro Cultural São Paulo
Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso – SP (Próximo ao Metrô Vergueiro)
Gratuito

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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