Desenvolvido por VJs no Brasil, software para planetários está no MoMA PS1 em NY, mas ainda não emplacou aqui

Claudia Assef
Por Claudia Assef
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O software Blendy Dome VJ, desenvolvido por Pedro Zaz, VJ Spetto e Roger S., tornou-se a ferramenta oficial do planetário do MoMA PS1 em NY

Fulldome, realidade virtual, 360 graus… esse pajubá pode soar estranho pra você, mas trata-se de palavras que compõem cada vez mais um universo no qual você certamente vai mergulhar. O futuro do VJing, ou seja, das projeções, seja das que vemos em festas ou no conforto de uma cadeira de cinema Imax, eis aí onde essas palavras todas se aplicam.

A mais recente novidade nessa praia foi a adoção do software Blendy Dome VJ, desenvolvido pelos VJs brasileiros Spetto, Roger S. e pelo português Pedro Zaz, como ferramenta oficial do planetário do MoMA PS1, em Nova York. Lançado em 2014, a ferramenta se tornou uma espécie de “Uber do mapping dos planetários”, como define o VJ Pedro Zaz.

“Ele permite com recursos mínimos fazer um trabalho de excelência. Uma pessoa, um computador e um domo fazem agora um trabalho que antes era apenas acessível com orçamentos milionários”, detalha Zaz.

Veja um vídeo demonstrativo do software Blendy Dome VJ

Em menos de dois anos desde seu lançamento, o software está em uso em mais de  30 países, em clubes, planetários, museus, templos, igrejas, feiras, cinemas, VJings e muito mais… Enquanto isso no Brasil, planetários como o do Ibirapuera optaram por uma tecnologia mais cara e mais obsoleta.

Por quê isso? Como eles chegaram a uma instituição como o MoMA? Qual o futuro do VJing? Essas e outras perguntas o Music Non Stop arrancou dos VJs Pedro Zaz e Spetto, dá só uma olhada.

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Music Non Stop – O MoMA PS1 adotou o software Blendy Dome VJ, que vocês desenvolveram, como solução para mapeamento e controle de seu planetário. Isso é incrível. Como eles chegaram até vocês?

Pedro Zaz – O ano passado, o Blendy Dome VJ esteve em destaque  em muitos festivais de new media na Europa e nos Estados Unidos, entre eles o Mapping Festival e o Tous Ecrans, ambos na Suíça, o IMERSA, nos EUA, o Mira, em Barcelona, e o FullDome Festival, na Alemanha.

O MoMA PS1, como é muito antenado com as coisas que estão acontecendo ao redor do mundo, nos contactou diretamente. Desde então foi uma espécie de amor ao primeiro e-mail. Tem sido muito bom trabalhar com eles, e o show de estreia é hoje mesmo (14), dia de São Valentim, em uma festa chamada #valiumvalentine. Nossa ferramenta Blendy Dome VJ  é agora o software oficial do  Domo do MoMA PS1 de Nova York.

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O VJ Roger S. operando o Blendy Dome VJ

Music Non Stop – Vocês já apresentaram o software para prefeituras no Brasil?

Pedro Zaz – Já. No Brasil houve até várias propostas para o Planetário de São Paulo e o do Rio De Janeiro. Em São Paulo tem sido uma história com muitos anos de paquera e quase ficamos. Uma vez até fizemos uma apresentação toda oficial para os cientistas do Planetário do Ibirapuera e os políticos da Prefeitura, um verdadeiro private date muito caro no planetário. Mas não deu em nada porque eles optaram por gastar muito em um projetor ultrapassado do século passado da alemã Carl Zeiss e não digitalizaram o planetário do Ibirapuera de São Paulo.

VJ Spetto – Nós sabemos que é muito mais caro e difícil fazer a manutenção do equipamento analógico, além de ficarem presos a um só programa. Tentamos demonstrar que com um sistema digital é possível ter uma variedade infinita de filmes comerciais, além de poder abrir o planetário a novos artistas para experimentarem esse tipo de arena. Enfim, tentamos demonstrar todas as vantagens de termos um sistema desses aqui em São Paulo, porém, parece que a administração atual (e a anterior também) carecem de visão estratégica.

No Rio foi exatamente o oposto. Fomos muito bem-recebidos já por duas vezes pelo Planetário, que é o maior da América Latina! O festival Multiplicidades, já com 10 anos, decidiu nos últimos dois entrar também na arte do fulldome. Claro que o  Blendy Dome VJ foi o software de mapping escolhido para os  shows com United VJs em 2014 e Muti Randolf em 2015 no Planetário do Rio de Janeiro. Por outro lado, o planetário do Rio de Janeiro é muito mais aberto, talvez por ser uma fundação independente e também por ter uma administração mais jovial, antenada com as novas tecnologias.

Eu gosto de falar que o nosso software é o Uber do mapping dos planetários. Permite com recursos mínimos  fazer um trabalho de excelência. Uma pessoa, um computador e um domo fazem agora um trabalho que antes era apenas acessível com orçamentos milionários. Hoje,  qualquer pessoa com laptop que vá a algum dos nossos workshops VJ University fica totalmente capacitado para fazer esse trabalho. Assim,  estamos a gerar uma nova economia criativa para artistas/engenheiros, que antes estava apenas destinada aos grandes da indústria do Cinema Imersivo.

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Pedro Zaz, do United VJs: viajando como se fosse uma banda de rock

Music Non Stop – Quanto tempo vocês levaram pra desenvolver esse softaware? Qual é a grande vantagem dele sobre a concorrência?

Pedro Zaz – A  ideia surgiu no início de 2013 e desde então nunca mais paramos. O VJ Roger S., com a sua genialidade,  mergulhou de cabeça na obsessão esférica do Pedro Zaz e em alguns meses já havia uma versão BETA do Blendy Dome VJ pronta para testar com o VJ Spetto.

Depois eu organizei uma world tour, que incluiu lugares como a Vortex Immersion, em Los Angeles, o famoso Morrison Planetarium, na California Academy of Sciences, em São Francisco, e o SAT, no Canadá. Também fomos a Moscou e Berlim, onde testamos o Blendy Dome VJ software muito intensamente. Fomos muito bem-recebidos em todos os lugares, o que foi muito bom para essa fase de teste.

Na sequência visitamos o Dorkbot em Buenos Aires, o Mapping Festival, na Suíça, a VJ Union Berlin, na Alemanha, LPM, na Itália, para testar as reações da nossa comunidade, que não poderiam ter sido  melhores.

O lançamento foi muito surreal porque fomos convidados para dois festivais no mesmo dia em maio de 2014. O  FullDome Festival, em Jena, na Alemanha, e o IX Immersive Symposium, em Montreal, no Canadá. Para poder realizar o lançamento simultâneo em dois continentes tivemos que nos dividir. Eu e o VJ Roger S.  fomos para a Alemanha e o VJ Spetto foi para o Canadá. Em 2014 viajamos muito para promover o software, como se fôssemos um grupo de rock.

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VJ Spetto, o caçador de bugs da turma

VJ Spetto – A idéia do Blendy Dome VJ veio depois de nosso envolvimento com as primeiras versões do MadMapper. O Pedro Zaz estuda há anos as cúpulas digitais, e vivia nos falando de como era. Bom eu só acreditei quando estive em uma, a experiência espacial é sensacional, você estar imerso, dentro de um filme, literalmente, é indescritível. A partir daí o Roger entrou de cabeça na programação e então entra a minha parte: eu testo em diferentes hardwares, diferentes configurações, codecs, peço mudanças na interface. Eu digo que sou o chato da turma, aquele que encontra os bugs.

Music Non Stop – Em quantos países ele já foi usado?

VJ Spetto – Em menos de dois anos estamos em mais de  30 países e tem clubes, planetários, museus, templos, igrejas, feiras, cinemas, VJ,  CERN e muito mais…

Music Non Stop – VJs brasileiros, como vcs, o Roger, têm apresentado várias soluções de ponta para o mercado. Isso se deve ao jeitinho do brasileiro de usar a criatividade no lugar de equipamentos novos e caros?

Pedro Zaz – Depois de mais de 10 anos  de viagens muito frequentes entre a Europa, Brasil e Estados Unidos, consideramos nosso software um produto de anos de investigação e desenvolvimento com uma visão de futuro global. A criatividade está em todos os lugares, nós apenas a usamos a favor de uma arte em que a gente acredita. O brasileiro e o português têm muita paixão pelo que fazem, e isso transpira no código do software. No Brasil é claro que existem profissionais totalmente capacitados para proeer soluções para o mundo. É só fazer pensando global.

VJ Spetto – Eu sempre penso numa maneira de simplificar o lado do artista. Quando vi pela primeira vez o hardware de um planetário pensei: catzo, isso pode caber numa mochila!!! Acho que daí que surgiu parte do desafio, entendendo a engenharia dos computadores e do código passamos a procurar soluções. Eu sempre prezo por aumentar as possibilidades do VJ, de encontrar novas arenas onde possa dialogar com o público, acho que esse é nosso mote.

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Music Non Stop – Qual é o futuro do VJing em festas?

Pedro e Spetto – The  future is unwritten, mas com certeza vai ser a 360….

Music Non Stop – Com relação ao resto do mundo, como está o Brasil neste mercado?

Pedro Zaz – Como em todo o lado, existem uns bravos  lutadores que acreditam  na sua paixão e investiram em estruturas fulldome e projeção 360, que é caro e no Brasl também existem, claro. Mas o mercado não acredita tanto assim quando vê o preço de aluguel de uma estrutura dessas e acaba por oferecer mais do mesmo entretenimento aos seu público. Abrir a visão da indústria ao 360 graus agora vai ser mais fácil, porque o Facebook e o Google investiram bilhões em VR [Realidade Virtual], que é parte da indústria do 360. Alguns dizem que o VR vai ser maior que a TV!

VJ Spetto – Eu estive num congresso de criatividade imersiva ano passado e lá estava o dono dos IMAX. Ele disse que o padrão fulldome era uma coisa que a indústria de cinema observava com bastante carinho, pois se trata de um formato não-pirateável e que necessita de salas especificas para exibição. Ou seja, os big players da indústria já estão de olho nesse formato, porque sabem que o futuro ali reside.

 

Claudia Assef

https://www.musicnonstop.com.br

Autora do único livro escrito no Brasil sobre a história do DJ e da cena eletrônica nacional, a jornalista e DJ Claudia Assef tomou contato com a música de pista ainda criança, por influência dos pais, um casal festeiro que não perdia noitadas nas discotecas que fervilhavam na São Paulo dos anos 70.

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